terça-feira, 12 de julho de 2011

Flip: quem te viu. Quem te vê.

Falar sobre a Flip não é fácil. É realmente um evento de tirar o fôlego, mas não podemos nos furtar à responsabilidade de analisar alguns aspectos que, sob minha ótica, e na qualidade de observador paratiense e empresário de turismo não posso deixar passar.

Mantenho na rede uma Central de Reserva online, a ReservaExpressa (www.reservaexpressa.com.br), e para deixar nossos clientes sempre informados do que está acontecendo, monitoro os canais de notícias e divulgo no portal. Nunca a Flip gerou tão pouca mídia, pelo menos que chegaram até aqui. Antigamente era até chato. Toda semana tinha uma coisa ou outra. Esse ano não foi assim, e não tem sido assim. Verifico, através dos pedidos de resevas que chegam na central, que não só a mídia, mas a frequência cai sistematicamente. Posso afirmar que em 2009 tivemos 90% de ocupação, em 2010, 60% e nesse ano 40%.

Muita gente diz que é por causa dos preços praticados. Não acredito, já que os preços de hotéis estão estabilizados há mais de três anos. Numa crise de turismo como essa ninguém é louco de aumentar preço. No máximo manter. Mas do jeito que as coisas estão acredito que as pousadas não terão mais coragem de fazer pacote ano que vem. Isso será prejudicial para o turismo na cidade e para a própria Flip, já que o padrão de turista vai cair muito. Gente que vai vir com dinheiro contado que não deve sobrar pra comprar os livros e gadgets que são vendidos nas lojas da Flip e nas da cidade.

De certa forma, também não é de todo mal a cidade não ficar lotada, já que por muitas vezes demostrou que não tem competência para atender tanta gente. Ano passado foram inúmeras as críticas que recebemos da falta de infraestrutura da cidade. E estava a 60%...

O problema é que muita gente daqui conta com o evento para tentar pagar as contas acumuladas nos piores meses do ano que antecedem a festa. Ou seja,a equação excesso de turista x turista de qualidade x pacote da flip x infraestrutura da cidade x infraestrutura do receptivo x organização do evento deveriam ser discutidos à exaustão pelas autoridades municipais, empresários e organizadores da Flip para que, efetivamente, todos ficasse felizes com o evento, não só uma meia dúzia de alienados que não percebem o que acontece a sua volta. E como disse João Ubaldo Ribeiro na própria Flip, nada mais útil do que um cheque gordo para inspirar quem quer que seja.

Fiquei feliz em não ver lixo durante o evento. O mesmo aconteceu no Festival do Camarão desse ano. Será que a prefeitura aprendeu o óbvio? Parece que minha matéria sobre a lixeira que se transformou a Festa do Divino fez efeito.

Voltando à Flip, tive uma péssima impressão quando vi a segregação do Centro Histórico para "valorizar a borda d´água". Ora, você não pode despir um santo para vestir outro. Ficou horrível a quadra vazia, pior ainda a praça da matriz, e todas as tendas e alegorias instaladas do lado da matriz ficaram deslocadas, desproporcionais ao espaço que as envolvia. E a borda dágua... Francamente. Usar um evento para alavancar um projeto de mais de trinta anos só porque o diretor executivo do evento é o pai do projeto de urbanismo da Borda Dágua é no mínimo prevaricação. Pena que ele não é funcionário público. Se fosse poderia se enquadrado (se o governo de qual participasse fosse sério, óbvio).

O fato é que a nova disposição, impecavelmente bem produzida com o dinheiro dos patrocinadores não colou. Pelo menos para mim. Muita gente também gostou, mas ninguém me tira a impressão de meia-boca, de forçação de barra, em cima de uma fórmula que sempre deu certo.

Que fim levou os boneções do Jubileu? Caetano já dizia que a grana constrói e destrói coisas belas. Parece que dessa vez destruiu. O cinema do "esquema de superfaturamento" (mas essa é outra história) que abrigava a Flip Zona também fez falta e ajudou ainda mais a esvaziar a praça, a OFF FLIP paratiense, que está praticamente dizimada para alegria daqueles que a tem como concorrente, as manifestações puras e populares que sempre nos surpreendiam em feiras anteriores. Turo isso fez muita falta. Participei pouco dessa edição, acredito que em participou mais deva ter sentido falta de muitas outras coisas. Para não ser só crítico, diria que um dos pontos altos desse eventos é justamente a OFF FLIP oficial. Os parceiros da Flip produziram ótimas opções paralelas.

Isso tudo faz com que me pareça que a Flip está confusa. Deve ser crise de preadolescência. Ano que vem tem muita matéria pra estudar. Muito livro pra ler... A mídia foi pouca: faltou alguém que chamasse mais atenção ao evento. Os grandes ganchos de midia foram a justa revolta do italiano, e a também justa desistência da presidenta, afinal, vir a Flip e não ver od bonecões do Jubileu é o mesmo que ir ao Vaticano e não ver o Papa! Deve ser hora de trocar de curador. Mas já não foi trocado ano passado? Quem sabe não está na hora de trocar quem troca? O que é certo é que do jeito que está não pode continuar. Acho inclusive que ao selecionarem Carlos Drummond de Andrade com tanta antecipação deve ser uma justa reação à tanto desastre. Mas não adianta tampar o sol com a peneira. Vamos continuar observado.

Nenhum comentário: